sábado, 8 de junho de 2013

A mente meditativa

Em todas as tradições existem muitos tipos de meditação. Diferentes tipos de meditação servem diferentes propósitos, levando o praticante a diferentes resultados, é um facto.
O propósito deste texto não é expor as diferentes técnicas de meditação, mas sim realçar a importância de desenvolver uma mente meditativa. 

O que é uma mente meditativa?

A mente meditativa é aquela que reuniu processualmente e de forma progressiva determinadas qualidades. 
Uma dessas qualidades é a capacidade de foco, de atenção, que em Sânscrito se chama samādhānam; ou seja, a capacidade de permanecer concentrado em determinado assunto, tema, ideia, ou mesmo acção, durante o período de tempo desejado, ou necessário. 
Um exemplo dado pelo querido Swami Paramarthananda, e que ilustra bem o poder da capacidade de atenção, é o de uma lupa; esta lupa, ou lente, pode ser orientada deliberadamente por alguém, condensando os raios solares numa folha de papel, queimando-a em segundos.  A lupa representa a capacidade de foco, de atenção, de concentração, e o sol representa a mente da pessoa. A orientação da lente representa o poder de escolha, o livre arbítrio que cada ser humano possui. O papel ao ser queimado aponta para o sucesso da acção.

Assim sendo, a capacidade de estar totalmente atento, debruçado, entregue um assunto, ideia ou acção, faz com que o processo de aprendizagem, o processo de estudo, e também o acto de viver, sejam feitos no presente. A atenção é a ausência de distracções, ou então,  é a capacidade de redireccionar os pensamentos para o momento presente, para o agora. 

Outra qualidade importante de uma mente meditativa é a equanimidade, que em Sânscrito se chama  samatvam. A equanimidade é exprimida na forma de uma relação equilibrada com o conteúdo mental, psicológico, que inclui a dança dos pensamentos, das emoções, das sensações. 

Quando o meditador se senta em seu silêncio, ou se senta repetindo mentalmente um mantra, ou se senta contemplando a realidade, abre um espaço psicológico para a mente sub-consciente se exprimir, se libertar, se exaurir. Esta mente sub-consciente em Sânscrito pode ser chamada de kaṣāya. Então, a parte subconsciente da mente é composta por tendências, ou impressões mentais chamadas vāsanās, que tendem a vir à superfície; tendem a manifestar-se quando os estímulos vindos do mundo externo são cessados. 
O meditador é aquele que deliberadamente  se senta, abrindo espaço para que o conteúdo sub-consciente possa ser observado, e então devidamente processado, resultando idealmente em purificação. Neste processo de purificação, acomodamos todas as experiências passadas, agradáveis e desagradáveis, reconhecendo que foram todas importantes, pois contribuíram para a pessoa que hoje sou. Este reconhecimento, esta acomodação, ou aceitação, é importante, e é também uma qualidade que é adquirida indirectamente; é a qualidade objectividade e que em Sânscrito pode ser chamada viveka.

Então, neste pequeno texto, apresentei-vos três qualidades que são adquiridas com a meditação: 

* samādhānam, capacidade de atenção, concentração ou foco, que pode ser expressa numa hora, num dia, ou mesmo por toda uma vida.

samatvam, capacidade de manter a observação da mente estável perante a dança dos pensamentos e emoções, sem se ser deixado levar por eles.

* viveka, a capacidade de receber com objectividade as experiências da vida; experiências ao nível mental, emocional, físico e claro com o mundo externo, discernindo sobre o seu carácter transitório e sobre a sua importância contributiva para o amadurecimento emocional.


Então, só se consegue uma mente meditativa com a meditação. Boas práticas! 


Por Paulo Vieira



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sábado, 20 de abril de 2013

O lugar da meditação no Vedānta por Neema Majmudar e Surya Tahora






 Neema Majmudar  and Surya Tahora são professores de Vedānta.
São ambos discípulos do Swamiji Dayananda Sarasvati e juntos editam o site www.discovervedanta.com

 



 A meditação é geralmente apresentada como uma técnica que acalma a pessoa e relaxa a mente. É por isso que encontramos pessoas no mundo empresarial, estudantes, donas de casa e pessoas de todas as esferas da vida que sofrem de níveis elevados de stress, que aprendem meditação apesar de não serem particularmente religiosas ou espirituais.

Quando alguém ensina meditação como uma técnica, pede que você preste atenção a cada parte do corpo, que respire profundamente, que observe a sua mente e por vezes que repita um mantra. Existem também meditações que falam sobre o despertar de alguns tipos de energias dentro de nós, como a Kuṇḍalinī, ou falam sobre ver um tipo de luz extraordinária, que é também equiparado a ser-se iluminado.

Existem outros que pensam que meditação implica parar o pensamento. Obviamente que quando a meditação é apresentada como a total cessação dos pensamentos, as pessoas irão achar que é difícil, uma vez que a natureza da mente é ter pensamentos.

Ao contrário das meditações acima referidas, a meditação tradicional é multifacetada e envolve muitas etapas. De uma forma geral, todo o processo de meditação é definido como “Saguṇa Viṣaya manas Vyāpāra”. Isto significa a actividade mental em que o assunto (objecto de contemplação) é Saguṇa Brahman ou Īśvara.

A maior parte de nós tem vivido a nossa vida sem estar a par, consciente de Īśvara ou pensando que Īśvara é uma entidade “exterior” que gerência a as nossas vidas. A meditação tradicional, que acompanha o ensinamento da Gītā e das Upaniṣads, usa a meditação para reorientar esta visão e fazer com que apreciemos a presença de Īśvara como abrangente em cada microcosmos e macrocosmos do universo, na forma da ordem que governa tudo, começando por cada célula do nosso corpo, indo até à terra, às estrelas, planetas e galáxias. Precisamos de trazer para nós este entendimento de Īśvara enquanto vivendo as nossas vidas e lidando com os nossos desejos, acções, resultados, etc. A meditação, quando a mente já obteve alguma profundidade, é considerada como a melhor altura para nos reorientarmos, para que o novo entendimento se infiltre no nosso ser e na realidade nos transforme. A meditação é portanto vista como um processo útil para reaprender e romper com hábitos antigos, para permitir que assimilemos intimamente o ensinamento, para que a distância entre o que entendo e o que faço não persista.

Muitas vezes as pessoas dizem que não conseguem meditar. “É muito difícil sentar quieto, sinto-me agitado passado um pouco”. O que é que fazemos? A primeira coisa a aprender é que, de acordo com a Gītā, a meditação não é somente uma técnica para aquietar a mente. Inicialmente a pessoa precisa de se acalmar do tumulto de pensamentos que incessantemente ocupam a mente. Assim como é mencionado no capítulo sexto da Bhagavadgītā, depois de se ter ganho alguma tranquilidade, de facto uma das coisas que podemos fazer durante a meditação é revisitar alguns padrões antigos de comportamentos, e soltar o pensamento habitual quando a mente já adquiriu uma certa profundidade, e não se estiver operando num modo superficial. Se formos capazes de rever eventos passados e reaprender a sua significância nas nossas vidas no momento da meditação, será muito provável que no estado acordado possamos ser capazes de agir mais de acordo com a nossa nova adquirida sabedoria. Desta forma, qualquer entendimento revisto é internalizado em camadas profundas e posto em prática nos diferentes aspectos da nossa vida.

Agora avancemos para cada etapa da meditação e ver os seus benefícios.

         (1)  Relaxamento

A meditação tradicional usa técnicas como observar o corpo, a respiração e os pensamentos. Mas estes são considerados como passos preparatórios para o relaxamento antes da meditação e não durante a meditação em si.
  
(       (2)  Repetição de um Mantra

Qualquer Mantra não é um som sem significado, mas algo que traz à mente a nossa relação com Īśvara. Por exemplo, Īśvāya namaḥ, Om namaḥ Śivāya são mantras famosos. Simplesmente repetir um destes Mantras trás muitos benefícios:

Ao trazer a mente de qualquer pensamento para aquele determinado mantra, tornamos a mente mais focada e menos distraída.

Entre dois cantos (mantras) não existe conexão pois ambos são do mesmo mantra. Isto reduz o pensamento por associação. Quando o pensamento por associação é restringido, o pensamento mecânico é reduzido. A pessoa torna-se mais deliberada.

Durante a repetição do mantra observamos que o mantra é substituído pelo silêncio e o silêncio por sua vez é substituído pelo mantra. Tanto o silêncio e os pensamentos vêm e vão mas Eu sou a invariável presença que é independente de toda a vida mental. Eu sou a invariável presença, o ser consciente que é totalmente independente de pensamentos (no estado acordado e no sonho) e silêncio (no estado acordado, no sonho e no sono profundo). Com a ajuda do ensinamento, reconhecemos ainda que este ser consciente é de facto consciência que não tem fronteiras e que é, por natureza, sem limites.

Estes são benefícios da repetição de mantra. Mas a meditação não termina aqui; o próximo passo é:

          (3)  Ver o significado do mantra

 Īśvāya namaḥ, saudações a Īśa; Senhor do Universo na forma de ordem.

Saudações significa que descarregamos todos os nossos “fardos” pessoais –culpa, dor, raiva, tristezas, inveja, que se tenham acumulado ao longo dos anos, que se tornaram parte de si. Estes sentimentos estão baseados no entendimento errado daquilo que “é”. O que quer que tenha acontecido nas nossas vidas, não importa quanto doloroso tenha sido, tem que ser entendido como parte da vasta inteligência de Īśvara. Um por um, a pessoa tem que revisitar cada evento traumático, sem tentar editar ou desvalorizá-lo.  Tendo trazido à tona da nossa consciência, temos que rever cada um destes eventos numa perspectiva diferente que contem o entendimento da ordem infalível, que dita o que quer que acontece nas nossas vidas.

Vejamos um exemplo concreto. Digamos que enquanto criança se sentiu não querida. Isso afecta muitos aspectos diferentes da sua vida. Qualquer relação começa com a suposição que me estou a intrometer ou a perturbar os outros. No local de trabalho, a pessoa irá sentir que não merece ser promovida, que ninguém a quer. Com os amigos, a pessoa não será capaz de iniciar qualquer plano porque sentirá que os outros estão ocupados e que não deve incomodá-los. Trazer a si o entendimento da ordem significa que consegue expressar a sua tristeza pertencente ao passado, porque é legitima tendo em conta a situação pela qual teve que passar. Tendo completamente reemergido esses eventos e emoções ligadas intensamente aos demais, a pessoa poderá ver que essa é uma realidade, mas que houve outras realidades na infância. A pessoa pode igualmente trazer à mente muitos outros que foram amorosos e carinhosos e que isso também faz parte da ordem. Podemos colocar em perspectiva cada uma das experiências da infância em vez detransportarmos uma só impressão, e fazê-la numa realidade que governa a nossa vida emocional. Podemos apreciar que recebemos amor de muitas fontes, assim como o nosso pai, avós, irmãos e amigos. Mesmo a mãe, ela pode ter sido amorosa e ter cuidado de si.

Tendo colocado em perspectiva toda a experiência, podemos seguir em frente para reconhecer que a própria mãe se comportou por vezes de determinada maneira, por causa das suas próprias frustrações, das suas situações difíceis.

Finalmente, deve existir alguma razão pela qual teve que passar por essas experiências. Pode ser que estas experiências o tenham ajudado a crescer até ao ponto em que agora está à procura de conhecimento e está a meditar.

Desta forma, sem fugir ao passado, percebemos a situação diferentemente, trazendo a nós muitas realidades e não somente aquele à qual temos estado agarrados. Depois, a pessoa pode avançar e ver como é que pôde mudar esta suposição subjacente, a que esteve carregando em diferentes áreas como o trabalho, a interação com os amigos, relativos e esposa.

No exemplo anterior, a pessoa trouxe o entendimento da ordem para revisitar o passado e reorientar-se durante a meditação.



         (4)  Contemplação – Nididhyāsana


Contemplação é trazer à mente o ensinamento de Vedānta, que revela a realidade de Īśvara como ser consciente que é idêntico ao indivíduo. Assim como a onda e o oceano, mesmo sendo diferentes na forma, têm a mesma realidade na água. Similarmente, Eu sou alpajña (com pouco conhecimento) e alpaśaktiman (pouco poder) e Īśvara é sarvajña (todo conhecimento) e sarvaśaktiman (todo poder); contudo, apesar desta diferença na forma, existe uma realidade que é a consciência de que ambos gozam. Trazer à mente esta equação chama-se contemplação.

A meditação e a contemplação são práticas importantes para tornar o ensinamento da Upaniṣad e da Gītā “real” para nós. A visão é que não existe uma diferença essencial entre Eu e a causa do Universo. Através da meditação a pessoa liberta-se de todas as orientações muito enraizadas que a impedem de apreciar esse facto.  


Artigo traduzido por Paulo Vieira com a autorização dos autores e originalmente editado em
http://www.discovervedanta.wordpress.com.

segunda-feira, 15 de abril de 2013

Novas aulas e horários na Casa Savitri

A Casa Savitri abre as portas desta vez à terça-feira para mais uma aula de Yoga, Hatha Yoga.
Estão todos convidados, inscrevam-se por email, paulovieira.om@gmail.com 

Mais novidades!!!

 A partir do próximo mês de Maio abre um novo horário para uma nova disciplina, Sânscrito. Seguido à aula de Sânscrito teremos uma aula de Vedánta. Assim sendo:

Todos os Sábados:
Sânscrito das 15h - 15.45h
Vedánta das 16h - 17h
Estas duas aulas são gratuitas e funcionarão por donativo.

O intuito destas aulas é dar a indispensável complementaridade necessária ao Hatha Yoga, que por si mesmo é insuficiente para o "re"conhecimento de Si mesmo. Este conhecimento, ou reconhecimento só acontecerá em cada um mediante uma exposição sistemática e prolongada ás palavras que o transmitem, a este processo chamamos shrávanam. O conhecimento de Vedanta, da derradeira parte dos Vedas, é assim tradicionalmente transmitido. 

Se é praticante de Yoga e quer saber mais sobre si mesmo, sobre a realidade, sobre o mundo, então dê o benefício da dúvida e venha experimentar.
Se não é praticante de Hatha Yoga, venha também pois este conhecimento não se circunscreve somente a praticantes de Yoga.

Maturidade emocional, dar resposta adequada às diversas situações de vida, ter uma visão apropriada e objectiva de si mesmo, dos demais e do mundo, deixar de ser um consumidor e passar a ser predominantemente um contribuidor social, etc., estes são alguns tópicos que fazem parte do estudo de Vedanta.

É com muito gosto, carinho e dedicação que me proponho a dar estas aulas com o profundo desejo que possamos todos sair mais enriquecidos. Que destas aulas nasça verdadeira luz, verdadeiro conhecimento! Que possamos ser recipientes de infinita compaixão e contribuir alegremente para o melhoramento do tecido social.

 Paulo Vieira

sábado, 5 de janeiro de 2013

Primeiro Domingo de Yoga de 2013 - Aṣṭāṅga Vinyāsa Yoga

É com muito entusiasmo que anuncio o primeiro Domingo de Yoga de 2013 dia 3 de Fevereiro das 10.00h às 19.30h na Casa Sāvitrī




O tema deste Domingo será "Sākṣi bhāvanā", "A atitude contemplativa na prática". A prática será de Aṣṭāṅga Vinyāsa Yoga.

No segundo capítulo da Bhagavadgītā
que é chamado Sāṇkhya (neste contexto significa conhecimento, jñānam; conhecimento de si mesmo, ātmā jñānam) Kṛṣṇa diz a Arjuna,

"
yogasthaḥ kuru karmāṇi saṅgaṁ tyaktvā dhanañjaya siddhyasisddhyoḥ samo būtvā samatvaṁ yoga ucyate" 2.48.
"Permanecendo firme no Yoga
Dhanañjaya (Arjuna) , realize acções abandonando o apego tendo a mesma atitude perante o sucesso e o fracasso. Esta atitude de equanimidade é chamada Yoga" 2.48

A proposta deste Domingo é fortalecer o equilibrio mental perante os pares de opostos experienciados durante a prática que servirá de instrumento à observação, assim sendo manter uma mente equilibrada é o desafio.


O palco é o tapete, o corpo o instrumento e o espectador és tu!  

Este evento não tem um preço fixo, cada um doará a quantia que puder.
 
Para mais informações contactar por email: paulovieira.om@gmail.com
ou tlm: 934867182 

sábado, 2 de junho de 2012

Conversão religiosa é uma forma de violência!!!

No decorrer da leitura de um artigo de felicitação dirigido ao Pujya Swami Dayananda Saraswati  presente na Newsletter do Arsha Vidya e referente ao mês de Maio, reparo num parágrafo que me deixou indignado. O artigo é referente à atribuição do titulo de Adi Shankaracarya a Swami Dayananda. (Podem ler mais aqui)

A certa altura da leitura encontro o seguinte:

 "Durante a visita do Pápa à Índia, o Pápa disse que nos primeiros 1000 anos os Europeus foram convertidos ao Cristianismo. Nos segundos 1000 anos Americanos e Africanos foram convertidos. Nos próximos 1000 anos os Asiáticos deveriam ser convertidos ao Cristianismo. Pujya Swamiji objectou sobre isto ao Pápa e deu um pensamento profundo numa única frase "Conversão é violência".  (Excerto retirado da revista e traduzido para o Português).


É preciso que se divulgue o seguinte!

Uma das formas de actuação deste movimento religioso agressivo na Índia é pagar às famílias pobres e necessitadas a instrução e educação dos seus filhos em escolas Católicas. Ajudam com a condição de que se convertam, com a condição de que deixem para trás toda a tradição e cultura em que nasceram. Isto é lamentável e direi mesmo condenável! Vejamos juntos porquê!


A família assenta em alguns pilares fundamentais que lhe conferem estabilidade. União é um pilar. Amor é um deles. Amizade é outro. Confiança é mais um. Tradição familiar outro mais. Valores éticos mais um. Religião é outro. E por aí vai!

Quanto ao Amor, à amizade e à confiança não existe muito para dizer, é do senso comum a importância que eles desempenham na manutenção, saúde e vitalidade de uma família!

Quanto aos valores éticos, podemos fazer a seguinte pergunta - Será ético converter famílias Hindus, ou Muçulmanas ao Catolicismo mesmo que isso signifique o aniquilamento de toda uma tradição?

Digo aniquilamento de toda uma tradição, pois para aquelas crianças isso será o começo do estudo de uma nova cultura. Ou seja, uma cultura imposta. É uma medida de puro marketing agressivo da Religião Católica, que se aproveita da necessidade das famílias pobres para vender a sua religião. Nesse processo de compra, as famílias interrompem a tradição, quebrando uma ligação de milénios com os seus antepassados. E a partir desse momento, a partir do momento em que esse elo seja quebrado, será muito difícil voltar a unir o passado com o presente, será muito difícil manter a singularidade e a beleza típicas de uma tradição.  Todos os rituais, toda a história religiosa, todo o conhecimento religioso será interrompido com essa medida de marketing, que apenas visa a expansão.

A Religião Católica não se preocupa com os valores e tradições de nenhuma cultura, aliás preocupa-se sim! Preocupa-se em destruir esse valores, preocupa-se em interromper o maravilhoso fluxo de conhecimento passado de geração em geração. Preocupa-se em terminar com a diversidade cultural e religiosa. Isto é uma forma de violência muito grave, pois não é apenas dirigida a uma pessoa em particular, mas é dirigida a todo um passado, é violência que atinge os ancestrais!

A conversão religiosa, se acontecer, deve ser sempre um acção voluntária. Deve ser pensada e feita apenas pela pessoa que sente mais afinidade por outro sistema e então decide converter-se.

Mais direi, compactuar com essa forma de violência é apoiá-la! É também uma forma de violência, violência passiva!

Se um dos objectivos da religião levar as pessoas à paz, a Religião Católica faz precisamente o contrário! É agressiva na sua abordagem, é ditatorial. Não respeita as diferenças.

Se outro dos objectivos da religião é "levar as pessoas até Deus", vejam bem a ineficácia da Religião Católica. Simplesmente não tem capacidade de levar a cabo essa tarefa. Não conheço ninguém praticante Católico que tenha "descoberto Deus". Nem mesmo padres. Nem mesmo Bispos. Direi mesmo, nem o Pápa.

Agir em prol do bem é desapoiar o mal, tirar o sustento daquilo que alimenta o mal. A conversão religiosa é sem dúvida um mal, um mal que irá acabar.

Paulo Vieira
 

sexta-feira, 1 de junho de 2012



भगवान्    O significado da palavra Bhagavān
  
Bhagavān é um dos nomes dado à manifestação. É uma palavra Sânscrita que representa o cosmos, o Absoluto.
A palavra Bhagavān aparece na famosa obra literária Bhagavadgītā, que é um capítulo do extenso Mahābhārata, o grande épico Indiano escrito por Veda Vyāsa, um grande ṛṣiḥ, sábio. O Mahābhārata insere-se num tipo de literatura chamada itihāsa, que por sua vez se insere dentro da smṛti. Smṛti é literatura de autoria humana que reflecte sobre a Śruti, sobre os Vedas. Itihāsa significa história, narração, quer dizer literalmente “assim aconteceu”.
A definição de Bhagavān é-nos dada pelo Swami Dayanda Sarasvati – “bhagaḥ asya asti iti bhagavān”, aquele que tem bhaga é chamado de Bhagavān.

O que é bhaga?

No Viṣṇu-purāṇa encontramos a definição – “aiśvaryasya samagrasya vīrasya yaśasaḥ śriyaḥ jñānavairāgyayoścaiva ṣaṇṇāṁ bhaga itīraṇā”,(Viṣṇu-purāṇa; 6.5.74).

Total e absoluta suserania (soberania), aiśvarya , poder, vīra, abundância, śrī, desapego, vairāgya, fama, yaśas e conhecimento, jñāna  são conhecidas como bhaga. 
Bhagavān é quem possui todas estas qualidades ou virtudes na sua totalidade.
 -
 Bhagavān possui todo o conhecimento, toda a sabedoria, sarva jñāna. Para ter todo o conhecimento, uma condição importante e imprescindivel tem que existir – ser livre de toda a ignorância. Assim sendo, o simples facto de possuir uma mente é um indicador óbvio de ignorância. A mente tem como função o conhecimento e o reconhecimento de todo o meio envolvente externo bem como interno. Seres vivos, pessoas, factos e situações fazem parte do meio dito externo. Os pensamentos, as memórias, sentimentos e emoções, e sensações fazem parte do meio interno. Relativamente a ambos os meios, externo e interno, sou ignorante, reconhecendo que há muito por conhecer. Para quem tem uma mente, ser todo conhecedor, sarva jñāna, é um feito impossível de alcançar. Reconheco que o saber total é o somatório de todas as coisas que conheço acrescido de todas as coisas de que sou ignorante.

- Bhagavān é ilimitadamente poderoso, ananta vīrya. Todos este cosmos, toda esta manifestação é prova de poder, śakti. O poder que deu origem à materia, o poder que existe para sustentar a matéria e o poder necessário à resolução. Bhagavān tem este poder levado ao infinito, ele mesmo é o infinito, ananta.

- Bhagavān é totalmente livre de gostos e aversões, totalmente desapegado, tem em absoluto a qualidade vairāgya. Para que se possa ser ananta vīrya, naturalmente se terá que ter vairāgya. Para que novos seres vivos nasçam, outros têm que morrer. O universo manifestado muda constantemente e isso é uma prova de total vairāgya.

- Bhagavān é aquele que é conhecido por todos, aquele que tem mais fama, yaśas. Todos reconhecem a infinita vastidão e magnitude suprema de Bhagavān. Assim ele é sem dúvida o mais famoso. Mesmo a fama do homem mais famoso se insere em Bhagavān, uma vez que Bhagavān é a causa tanto do homem bem como da sua temporária fama. A fama de Bhagavān, pelo contrário é eterna, nitya yaśas, uma vez que Bhagavān também é eterno.

- Bhagavān é fonte inesgotável de todos os recursos, de toda a abundância, de toda a riqueza, śrī. O homem durante o seu período de vida acumula bens materiais que ficam quando ele parte, quando morre. Na realidade toda abundância, śrī é Bhagavān. A água dos oceanos, o ar que respiramos, todos os seres vivos, o Sol, toda essa abundância de recursos é Bhagavān.

 - Bhagavān é também aquele a quem nenhuma lei se impõe, ele é o somatório de todas as leis, a causa de todas as leis, ele “é” também na forma de leis. Bhagavān é o único senhor absoluto e detém a qualidade chamada aiśvarya, total soberania. Podemos dizer que é o grande Imperador. O ser humano que é dotado de grande inteligência, capacidade e meios para a usar, apenas pode usar as leis presentes na manifestação. A engenharia é um exemplo desse uso,  a biologia é outro exemplo, a química mais um exemplo. Em todos estes exemplos, nunca o homem foi o criador de uma sequer lei, descobriu-as mas não as criou. Usa-as mas não as modifica. Equaciona-as mas não as transforma. Aquele que tem o controlo absoluto é Bhagavān.

Paulo Vieira, Junho 2012

sábado, 26 de maio de 2012


Pedro Kupfer 

 

Parivritta Parshvakonásana: a torção estendida em pé 

 

 

Tradução do nome desta postura:

parivritta = torcido, parshva = lado, kona = ângulo; "postura do ângulo, em rotação lateral"




1. Esta postura é uma das mais importantes torções em pé, fundamental para fortalecer a base, as pernas e a parte inferior do tronco.
2. Como no uthitta parshvakonásana sem torcer, o pé de trás fica num ângulo de 90 a 65 graus em relação ao pé da frente.
3. Apoie firmemente a parte externa do pé de trás.
4. Deixe os arcos de ambos os pés elevados, especialmente o do pé de trás.
5. Se não conseguir, eleve o calcanhar e deixe os dedos do pé de trás voltados para a frente.
6. Em sentido longitudinal, deve manter-se entre os pés um espaço equivalente à largura do seu quadril.
7. Uma vez que você está firme nessa base, torça o tronco, a partir da ponta inferior da espinha dorsal.
8. Para fazer a torção, coloque a parte externa do braço na parte externa do joelho (se o joelho direito estiver à frente, a torção será feita com o braço esquerdo, e vice-versa).
9. Se isso não for possível, use um bloco de madeira para apoiar a mão, do lado interno do pé da frente.
10. Evite hiperflexionar o joelho da frente. A tibia fica perpendicular ao chão e o joelho sobre o tornozelo.
11. Perceba uma linha reta e contínua, desde o pé de trás até o braço estendido. O tronco fica nessa mesma linha.
12. Perceba a rotação externa da crista ilíaca de cima.
13. Mantenha o cóccix apontando para o calcanhar do pé de trás. Os ombros ficam girados em direção às escápulas. Ao torcer, evite contrair o pescoço, e mantenha espaço entre ele e os ombros.
14. Tome consciência da circulação da energia vital, entre a base do tronco e o coração, especialmente no plexo solar, ativando o uddiyana bandha.
15. Suavize o olhar e a expressão do rosto. Esforce-se, mas não exagere.
Atenção:
Estas dicas não substituem um professor de Yoga. São disponibilizadas apenas para que o praticante possa aprimorar sua técnica e sua prática pessoal. No início, a prática sob a supervisão cuidadosa de um instrutor preparado e competente é essencial para o sucesso na prática, bem como para evitar lesões. O autor não se responsabiliza pelo mal uso que possa ser feito destes textos. Obrigado pela compreensão.
Namastê e boas práticas!

Artigo escrito por Pedro Kupfer publicado originalmente em www.yoga.pro.br em 17 de Setembro de 2006. Este artigo foi aqui publicado com a autorização do autor